18.12.06

Cais do Sodré

A primeira vaga do tsunami de 1755 bateu ali, no exacto ponto onde hoje se apanha o barco para Cacilhas. Não havia estação de comboios, claro, nem mercado da Ribeira, muito menos as linhas de eléctrico. Existia apenas um casario desorganizado, bares de marinheiros e muita putaria. Um traço que as ondas do maremoto não conseguiram disfarçar.

Oslo, Tóquio, Jamaica, Texas, Estocolmo, Escandinávia, Europa. São nomes de bares do Cais do Sodré, chamarizes para os que ali chegavam pelo rio. Anunciam num letreiro promessas de matar saudades de casa com copos, corpos, mulheres. Mas também são refúgio de bandidos, esconderijo de conspiradores. O porto de abrigo da cidade que ninguém via, mas toda a gente cheirava.

Sábado à noite durou até domingo, no Cais do Sodré. Desviei a rota do Jamaica de sempre [onde guardo memórias de noites gordas com quase todos os meus amigos] e do Tóquio de muitas vezes [sobretudo vou lá com o Ric, que me convidou para padrinho do seu casamento e contratou o DJ da casa para animar o copo de água].

O Europa reformulou-se. Abre até às 4h30 e novamente às 6h, para after-hours até à hora de almoço. E o Texas já não se chama Texas, agora é Music Box e tem ambiente house. Foi a minha rota da noite, até baterem as onze da matina. Muita dança, mais copos, conversas discretas, encontros inesperados.

O problema é que tinha um almoço no domingo, à uma, com os meus colegas da Faculdade. Adormeci e só acordei ao vigésimo telefonema da Lina, eram quase quatro da tarde. Já tinha conseguido faltar a um lançamento do meu livro. Agora também consegui faltar ao encontro que eu próprio marquei. No primeiro caso, a culpa foi do trabalho. Agora, foi do Cais do Sodré. Shame on me, anyway.

2 comentários:

Grilo Falante disse...

A Festa de Natal não teve prolongamento, logo poderias arcar com menos culpa.

Ah, fomos brutais!

pinky disse...

pois que diria que essa foi uma falta muito bem justificada.