19.7.07

Dá-lhe gás


Na estação de serviço de Vila Velha do Rodão, a meio caminho entre Abrantes e Castelo Branco, vendem-se todo o tipo de improbabilidades. Um mapa dos arredores de Sintra, por exemplo.

O caso não seria estranho, não fosse o facto da mesma estação de serviço não ter qualquer mapa da Beira Baixa e de não se conseguir encontrar um mapa dos subúrbios de Sintra em nenhuma estação de serviço dos subúrbios de Sintra.

Para que raio precisa um habitante de Vila Velha do Rodão de saber onde fica Pexiligais, a Tapada das Mercês ou a Serra das Minas?

2.7.07

24 hour party people


Quem por estes dias se detenha diante de qualquer parede do Bairro Alto, do Cais do Sodré ou de Santos, rapidamente constata a febre de festa que anda a assolar a cidade. Há festivais de Verão em barda, os melhores DJ's do mundo, beach parties, pool parties, festas trance, electro, punk, pimba, 80's, drum&bass, r&b, cidade&arredores. Há festa na aldeia.

Ninguém escapa ao contágio. Pessoalmente, quero ir ao Festival de Músicas do Mundo, ver Underworld e Scissor Sisters, Gotan Project e não digo que não às festas de São Lourenço em Tourém, concelho de Montalegre, Trás os Montes. A maior parte dos meus amigos também tem destinos definidos. E os conhecidos e os que nunca vi em parte nenhuma. Chega o Verão e Portugal precisa urgentemente de se embriagar.

O fenómeno não deixa de me arrepiar os pêlos. Estamos em plena crise económica, ninguém consegue atravessar a Baixa lisboeta sem que lhe cravem dois ou três ou oito cigarros num percurso de dez minutos [a propósito, os pedidos são cada vez mais exigência. No outro dia disse a um tipo «não» e ele perguntou «mas não porquê», outra vez respondi a um rapaz «só tenho um» e ele retorquiu com «também é só um que eu quero»], as pessoas andam mais agressivas, mais enrezinadas e mais ressabiadas. Mas chegou a altura das festas e não há quem não se sinta obrigado a cumprir o mais pós-moderno dos rituais portugueses. Nasceu na última década uma Partyland. Mas tenho dúvidas se estamos na terra da party people.



Tenho normalmente essa sensação às sextas e sábados à noite, no Bairro Alto [evito cada vez mais incursões a estes dias]. Observem-se mitras, betos, nherfs e pseudointelectuais de esquerda para constatar o facto. Passam grande parte da semana isolados e chega o fim de semana e decidem: «Hoje vou divertir-me!» Então invadem o bairro, anestesiam-se com álcool ou substâncias psicotrópicas para que, da meia-noite às seis [sete, oito] da manhã se divirtam. O problema é que decidem previamente a sua diversão, planeiam-na num horário e num formato pré-definido. É a morte da espontaneidade, com ilusão de grande festa.

Não tenho nada contra noites bem regadas ou aditivas. Nem quero ser moralista ao ponto de pensar que quem sai à sexta e sábado é obrigatoriamente assim. Só me espanta a febre de party-goers que se assumem como tal nesta cidade, quando ainda há uns dias vi um tipo meter-se com uma série de gente no Bairro, com tiradas realmente cómicas e geniais, de uma forma descomplexada, como se estivesse em festaconstante. Reparei que a maior parte das pessoas com quem ele se metia o ignoravam ou lhe respondiam com a típica sobranceria lisboeta.

Ninguém percebeu que esse tipo estava a oferecer passaportes para a grande festa. Mas era uma festa espontânea, verdadeira, fora de formato.