3.7.08

Geração higiénica

Os sixties foram os anos rebeldes, os seventies assistiram ao nascimento do punk e do new age, os eighties foram os anos das lantejoulas e do porreirismo [com o pessoal a afundar-se em heroína, a sida a aparecer, as regras do jogo a mudar] e os nineties não tiveram ícone maior do que o álbum Nevermind, dos Nirvana. Em tradução literal, «não quero saber» ou, perdoem o meu francês, «estou-me a cagar». Foi a atitude que marcou a última década do século XX.

A mudança de século e de milénio inverteu tudo. O terrorismo pôs a malta a pensar, logo no início desta década. É difícil perceber uma geração quando ela marca o presenta, mas agora que passaram oito anos e meio, já se adivinha como vão ser recordados os anos 2000.

Higiénicos.

Esta geração não bebe nem fuma, pratica desporto em ginásios, faz reciclagem, é adepta do vegetarianismo, veste-se bem, bronzeia todo o corpo, toma suplementos vitamínicos mas abdica dos esteróides, rapa os pêlos do peito, come saladas e peixe grelhado, prefere cola zero ou cola light à cuba libre, faz yoga e tai-chi, deita-se cedo e acorda cedo, escolhe drogas sintéticas, cortadas com lixívia e desinfectantes. É a geração que viu nascer a ASAE e alei do tabaco, por exemplo. Provas mais que provadas de que valor maior dos nossos tempos é a higiene, a salubridade. Todos temos de estar incrivelmente em forma, absolutamente saudáveis, preferencialmente puros.

Nada de mal até aqui. Foi preciso passar uma borracha pela segunda metade do século XX, anos duros onde tudo se experimentou, onde tudo foi uma possibilidade, e começar de novo. Começar bem, limpinho, clean. Mas depois vieram os exageros.

Na Holanda, foi aprovada uma lei que impede o consumo de tabaco em todos os locais públicos, incluíndo os coffeeshops. Podem ler a notícia aqui: http://www.usatoday.com/news/world/2008-06-26-amsterdam-tobacco_N.htm

Os frequentadores destes espaços poderão fumar ganzas à vontade dentro dos estabelecimentos, mas apenas se estas não contiveram tabaco. Os cigarros também estão proibídos, só charros puros, de haxixe ou erva.

Eis a onda higiénica levada ao extremo. Ridículo, não é?