29.5.07

Dar uma geral

Em Portugal trabalha-se mal. Um tipo que seja realmente competente no que faça não é recompensado por isso e um tipo que seja realmente incompetente no que faça não é castigado por isso. Seja no sector público ou em empresas privadas. A gestão de recursos humanos é, neste país, uma piada. Normalmente quem sobe na vida é porque é amigo do chefe, cão de fila ou yes-man. Há excepções, mas esta é a regra.

Em Portugal, muitas das pessoas que ocupam cargos de liderança receiam tanto serem ultrapassadas pelas pessoas mais novas [muitas vezes mais bem preparadas para as exigências profissionais] que muitas vezes bloqueiam o acesso às decisões a quem é bom. Há uma cultura do topo para as bases, quando a produtividade subiria se o processo ocorresse ao contrário. Obviamente.

Em Portugal, os chefes não partilham muitas vezes informação sobre o trabalho a desenvolver. Ouvem-se frases como: «ninguém te paga para pensar», «isso não é da tua competência», «reduz-te à tua insignificância». Ora, partilha também significa partilha de soluções, mas isso é vantagem que não se quer ver.

Em Portugal, não se elogia nem critica o trabalho dos outros, «mete-te mas é na tua vidinha». A excepção é quando aparece um tipo muito bom e que dá muito nas vistas. Aí, as pessoas falam, mas normalmente o sujeito é mais vezes alvo de inveja do que serve de exemplo. Trabalha-se mal em Portugal.

Em Portugal, há uma geração mil euros. Os que nasceram nos anos 70 só raras vezes conseguem ultrapassar esta fasquia – suficientemente modesta para manter condições de vida medíocres, suficientemente acima da média para ninguém criar ondas. É espiral sem fim, viver com mil euros. Até porque não há perspectiva de mudança.

Em Portugal, investiu-se nos baixos salários durante a segunda metade da década de oitenta e primeira de noventa como estratégia de desenvolvimento económico. Mas caiu o muro, veio a globalização e o país ainda não se soube reinventar. Um ministro convida empresários chineses a investirem em Portugal, porque os salários são baixos. O PM aumenta os impostos aos solteiros, aos deficientes e aos que querem morar sozinhos, para ordenar em rebanho de estratégia familiar [e remediada] a sociedade portuguesa. Não há formação profissional, não há aulas para trabalhadores estudantes, não há nada.

Em Portugal trabalha-se mal. E é por isso que eu adiro à greve geral de 30 de Maio. Não só por mim, não só pelos estagiários que enchem as redacções dos jornais a custo zero, não só pelas pessoas que conheço que se esfalfam como jornalistas e ganham menos do que um incompentente que não sai da secretária.

Faço greve porque em Portugal se trabalha mal. Mal demais.

24.5.07

Caos

Tinha directora, já não tenho. Fui nomeado para um prémio de jornalismo, não ganhei. O portátil deu o berro. Não comprei uns óculos novos. Não entreguei o IRS. Tenho que actualizar a carteira de jornalista. É por tudo isto que não escrevo há tanto tempo.

Aiiiiiiiiii

Mas acontecem coisas boas pelo meio. Baloiços e casamentos de amigos e tal.

I'll be back soon with another cartoon.

11.5.07

TOMBA LA LÃO

Mesmo em frente à América há um parque infantil com três cavalinhos que sobem e descem consoante o atrito que se lhes imprime, mais um complexo castelo de madeira com cordas para escalar e três escorregas [um túnel, um tubogan e uma passadeira normal, descendente, metálica] para ensaiar a evasão.

Nunca lá vi uma única criança.

O facto pode ser explicado pelo cada vez mais óbvio envelhecimento do bairro de Alvalade, pelas novas regras sociais em que os putos já não brincam na rua mas sim fechados em casa, diante do computador, ou pela simples constatação de que há três parques infantis numa área de 200 metros e aquele é sem dúvida o menos espectacular [não tem, por exemplo, bebedouro de água, sobe-e-desce ou baloiços]. Seja como for está constantemente vazio. Ninguém, um deserto de infância.

No entanto ontem, às quatro e meia da manhã, o parque infantil escangalhou-se em gargalhadas. Havia dois vultos no cavalinho, no tubogan, a escalar o castelo. Riso, festa, grande moca.

Quem disse que não existem crianças de 30 anos?

7.5.07

A menina dança?

Dança.

Muito bem.

Num palco de caixa de música, noutro sobre o Tejo, a menina dança com gestos de cantiga de embalar, esgar de baile de fim de verão, sorriso de cabaret. A menina dança muito bem. E eu gosto.