11.3.08

Cure for pain



Eu tinha o bilhete comprado desde Novembro e acordei feliz no sábado. Mandei mensagens a quem ia comigo. Disse «Show me how you do it, and I promisse you, I promisse that, I'll runaway with you». Angariei mais fugitivos. Sete da noite, imperial. Oito e meia, pavilhão atlântico. Weeeeeeeeeeeeeeeee.

Mr. Robert Smith está um pouco mais gordo. Mas a voz, inconfundível, preserva truques de ilusionista. Quantas memórias acumuladas nesta sonoridade? Viagens e dores e romances e melodramas e amigos e praia e tudo.

Mr. Smith também gostou do concerto. Cantou durante mais de três horas, dançou como nunca, avançou até à frente do palco para partilhar emoções com a plateia. E foi precisamente nesse momento, um dos mais íntimos do concerto, que chegou a perplexidade.

Robert Smith estava no limite do palco, encostado ao público, a cantar de mão estendida para a massa. Oferecia a mão e a alma, num gesto que é pouco habitual nele. Ninguém, quase ninguém, lhe estendeu a mão. Em vez de se deixarem ir, de se entregarem à empatia do momento, os que estavam na frente do palco preferiram erguer os telemóveis e gravar essa fabulosa magia de Mr. Smith.

Ele de braços estendidos ao público e o público de telemóvel estendido a ele. Não pude deixar de pensar que isto é um sinal dos tempos. Seja a gravação para mostrar aos outros ou para ver mais tarde, é uma estranha mediação. Toda a gente preferiu gravar a magia do que vivê-la. Que raio de tempos estes.