3.10.06

Crónicas de elevador

Vivo nos Estados Unidos. Num décimo andar da Avenida dos Estados Unidos, com vistas largas sobre Lisboa. Um T1 com varanda, antiga casa de porteira convertido em palácio pequeno, mas pleno de estilo. Tem uma parede de vidro, um armário enorme, quatro paredes de tijolo embutido, um poster original de arte de propaganda vietnamita. É assim que eu vivo na América.

O elevador do meu prédio é antigo, anos quarenta, uma porta de abrir e outra de correr, daquelas metálicas. A subida é lenta, vagarosa, e a luz interior só dura um andar e meio. Todos os dias, subo e desço para o topo do mundo como Ulisses, que passou por todas as trevas até concluir a sua Odisseia. Também eu fico calado no escuro, às vezes acendo o isqueiro para afastar fantasmas, até que por fim chego ao décimo piso, rodo a chave de casa e percebo o meu privilégio de arranha-céus. Aqui no alto, Olimpo privado, Lisboa corre de outra forma.

Gente feita carreiro de formigas, automóveis tornados besouros barulhentos, casario que à noite é enxame de pirilampos.

O elevador é um portal que me leva do centro da urbe para o Jardim Zoológico. Bem-vindos à minha janela. Bem-vindos ao laboratório.

5 comentários:

Anónimo disse...

Já viste como eu sei tudo? Como eu te descobri? Estamos juntos, pois estamos

Marco Lourenço disse...

+ 1 blog para encher com boa escrita. vou passando por aqui, se não te importares, 'tá claro.

abraços

Marco Lourenço disse...

lembrei.m de dizer
quase que seremos vizinhos...
lisboa vista de roma :)

Telescópio disse...

Bem-vindo: ao blog, à cidade e à vizinhança. Fui ver o teu blog e achei-o muito fixe. Mesmo. Avisa quando te mudares, para irmos tomar um café. Abraço.

Marco Lourenço disse...

eu vou fazendo "visitas" até roma - uma constante romaria de sintra a lx.
Espero que seja roma, ali perto dos jardins do hospital, mas ainda falta assinar o contracto.
vamos fazer figas.