16.10.06

Sabor a mento

São onze e meia da noite e as 32 cadeiras do Restaurante São Cristovão (na rua com o mesmo nome, Mouraria, Lisboa) estão todas ocupadas. Um dos comensais já tinha cantado o fado, ouviram-se várias mornas de Cabo Verde e Bob Marley também passou por ali, dedilhado nos dedos de Batcha, guitarrista de serviço. De repente, uma mulher aproxima-se limpando as mãos ao avental, sorriso de poucos dentes mas de uma sinceridade desconcertante. E começa a cantar em crioulo: «Mundu, bô ten roladu ku mi num jogu di kabra-séga, sempri ta persigi-m.»
Ela é Mento, ou Maria do Livramento Levy, cabo-verdiana de 56 anos, neta de um judeu, dona do São Cristovão. Abriu as portas do estabelecimento há 27 anos, renovou-o há poucas semanas. No meio do empedrado da Mouraria, criou um espaço para a África Lusófona, com pratos de todas as antigas colónias portuguesas e música do arquipélago onde nasceu. «A nossa clientela tem um terço de portugueses, um terço de africanos e outro terço de turistas estrangeiros. E voltam sempre», solta com uma gargalhada – deliciosa como catchupa.
Mento nasceu na Praia, ilha de Santiago, e aos 19 anos embarcou para Lisboa. «Vim pela aventura, comecei a trabalhar como doméstica. Nessa altura a vida era mais afectuosa, hoje as pessoas estão mais frias, mais stressadas. Aqui não deixamos entrar stress.» Fez do restaurante a sua casa, sala de visitas onde reserva sempre uma mesa para os amigos que chegam sem aviso. O resto é ao estilo de Mento. Beijos e abraços para toda a gente, comida de África, (muitos) copos de grogue e a música das ilhas – nem sempre afinada, mas sempre emocionada.

1 comentário:

pinky disse...

convenceste-me, tenho k lá ir! muito mal comparado, essa descrição fez-me lembrar a casa do algarve com a sua maravilhosa cozinheira cubana.