Sentimo-nos um pouco estranhos quando alguém com quem já tivemos uma relação nos anuncia que se vai casar. Miss D. vai casar este domingo. Anunciou-me o facto há já alguns meses, com a maior naturalidade do mundo, e eu aceitei a notícia no mesmo registo. Afinal, tinham passado anos desde que nos enrolámos pela última vez. E não havia de facto qualquer motivo para assim não ser: sempre ficámos amigos [contra todas as probabilidades, verdade seja dita], e, anos mais tarde, quando conheci o homem que este domingo a vai levar ao altar, achei que era um tipo porreiro e calado - com o tempo confirmei a primeira qualidade e ele foi ganhando confiança para alterar a segunda.
Miss D. e eu nunca namorámos, antes envolvemo-nos. Namorei sim com Miss H., que há dias me dizia qualquer coisa como «devia existir uma lei que proibisse os ex-namorados de casar.» Bem, Miss D. vai casar este domingo mas, como nunca foi oficialmente minha namorada, a lei não se aplica. Consigo até sentir-me feliz por ela. Vou aliás estar presente no casamento, no copo de água e até aposto que me vou divertir bastante. Mas não deixo de sentir algo estranho.
Sei que não quero casar, evito os relacionamentos e privilegio os envolvimentos, não me sobram restos da atracção que levou a que um dia eu e Miss D. estivessemos juntos. Mas isto é pura razão, porque emocionalmente dou por mim a pensar em imensos «whatifs». E se tivesse sido eu. E se tivesse sido ela. E se tivessemos sido nós.
Não somos, nunca fomos, nem seremos. Sei-o perfeitamente. Estou feliz por ela, estou feliz por ele. Não queria seguramente que fosse eu a recebê-la no altar e, no entanto, tenho plena consciência que este domingo, durante uma pequena fracção de segundo, hei-de voltar a sentir esta estranheza que agora escrevo. A estranheza inevitavelmente humana de querermos o que não temos e, simultaneamente, não o suportarmos ter.
27.4.07
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2 comentários:
A certeza de perdemos aquilo que não queremos e não temos, mas a concicção de que o ideal está para vir é um sonho e uma ângustia presente que nos faz expirar e inspirar. Quem sabe sobre o futuro... quem sabe sobre o nosso pensamento e as nossas influências em diante...
Sejam felizes nas vossas convicções que eu vou procurar a minha agulha e sobre ela encontrar a minha orientação.
S. Gaiv.
Eias aquela tipica situação onde se exclama...."Já fostesssssssssssssssss"...
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