11.11.07

This is Maputo


O avião atrasou-se. Eu vinha de Niassa e devia ter chegado ao Maputo ontem mesmo, dia 10, pelas 23h30. Mas, de Lugenda à antiga Lourenço Marques, avioneta fazia paragem em todas as estações e apeadeiros. Pemba, Nampula e cosmopolitismo uma hora depois do previsto, já dia 11, meia hora depois da cinderela se ter transformado em abóbora.
Era feriado e sábado à noite, de qualquer maneira. Primeiro, um táxi para a Feira Popular, comer camarão grelhado, admirar carrocel e roda gigante, conversa boa com duas amigas mais o meu companheiro de vagem.
Três laurentinas fresquinhas depois, comecei a interrogar-me porque motivo o rádio do restaurante tocava mais alto que a grafonola dos carrinhos de choque.
«Bem», disse dona Natércia, «o Maputo faz hoje 120 anos que foi declarado cidade. Tem festa grande na Praça da Independência e estão a transmitir tudo em directo na rádio». Ok, queremos a conta e seguimos para o fim do colonialismo.
Festa rija. Praça cheia com uma claríssima escuridão. Quatro brancos na paisagem, nem mais um. Gente a dançar empoleirada nas árvores, muito maputense a meter conversa, e o raio da laurentina a vir parar-me às mãos - uma, outra, tanta.
À minha volta, só via rodar garrafão de tinto, cigarro de sorriso, mulata de braço em braço. E cantoria de braço levantado, viva o Maputo viva, abraços e amigos num instantinho de sempre, rodas de dançarina, corpos deitados no chão, o dia a raiar.
Tive que correr num foge-foge. Novo voo às 6h30, agora para Bazaruto, e o tempo a escorrer-me dos dedos, não queria, não podia ir embora.
Saí sim, teve que ser. Mas volto já num instantinho e sei com certezas absolutas que hei-de ter saudades para sempre. É estranho. Pensava que ia estranhar urbanidade em África, imaginava magia do continente com exclusividade no mato e na praia.
Mas a minha renitência com o Maputo está como o açúcar para o chá: dissolve-se.