16.1.07

O Marítimo da Bica

Quando arrancou o Campeonato do Mundo de Futebol, Lisboa andava em agitado rebuliço a preparar-se para o Santo António. Vi os primeiros jogos da Selecção no «Quintal da Copa» – que o Hugo e o João instalaram na Penha de França – mas depois o primeiro rumou para o Brasil, o outro para Idanha-a-Nova, e eu acabei por combinar com o Ric [meu companheiro de andanças futebolísticas, entre muitíssimas outras andanças] vermos os jogos que sobravam na Bica, um dos bairros típicos da capital. A Cátia vinha ter connosco mais tarde.

Descemos a calçada – que se chama Duarte Belo – no dia combinado. Passámos o Bicaense, o restaurante africano, o Grupo Excursionista Vai Tu e virámos à esquerda. Descemos as escadinhas e lá estava o Marítimo da Bica, janelas e portas escancaradas, mesas compridas montadas na rua, mais o televisor elevado numa frágil estrutura de mesas e cadeiras. A marcha de 2006 ressoava num improvisado sistema sonoro, ao passo que os marchantes se aproximavam e grelhavam febras e pregos ao ar livre. «Sentem-se, sentem-se.» É aqui que ficamos, não haja dúvidas.

Portugal-Holanda foi um sofrimento. Na rua e de olhos postos na televisão, os organizadores da marcha, concentrados no Marítimo, gritavam mais alto do que nós. A meio da primeira parte sentaram-se dois franceses na nossa mesa - o Vincent e a Anais - com quem íamos partilhando cerveja e bifanas. O senhor Américo e o senhor João já nos tratavam por filhos, ofereciam-nos cerveja «para dar sorte» e a bebedeira ia crescendo. A táctica, pelos vistos, funcionou, já que ganhámos e a trupe entrou em delírio. Música em altos berros, eu agarrado às velhas a dançar música pimba, mais a marcha da Bica, e a promessa de voltar para o jogo com Inglaterra. O Vincent e a Anais, que iam para Coimbra e Porto, cortaram-se ao regresso.

Meia semana depois, jogo com Beckham e companhia, desta vez aparecemos mais cedo e, como o desafio correu durante a tarde, ficámos dentro do edifício. Já toda a gente nos tratava pelo nome, já tínhamos mesa reservada no meio da tropa da Bica. Eu, o Ric e a Cátia, acompanhados pelo Torcato, com quem vemos sempre a bola, a Bego, minha ex-namorada espanhola, e o Juvenal, colega de trabalho que é natural do bairro e se juntou à festa. Novamente muita música, muita cerveja e a certeza de já fazermos parte da casa. A meio da primeira parte, voltaram a aparecer os franceses - tinham desviado a rota para vir ali. Família espontânea, em reunião animada. Muita cerveja, ameaças de ataques cardíacos, e ganhámos nos penalties.

Ao terceiro jogo já andávamos a montar os toldos cá fora e a comer o jantar dos marchantes. Cerveja paga era coisa pouca, beijinhos das velhas e abraços dos homens era coisa farta. Perdemos com a França mas ganhámos amigos. O Vincent e a Anais mandaram sms de Paris, mails com fotos, prometeram voltar no próximo Verão.

Ontem voltámos ao Marítimo da Bica – eu, o Ric, o Torcato e o Juvenal – para vermos o Benfica ganhar à Académica dois a zero. O ritual repetido, como se fossemos naturais do bairro. Gritaria constante, beijinhos e abraços, «há tanto tempo que não apareciam». Voltaremos mais vezes, de ora em diante.

Não vivo na Bica mas, pelos vistos, sou natural dali.


PS: Outro benfiquista ferrenho com quem não vou ver a bola há imenso tempo é o Phil, que abriu um blog novo e merece uma visita atenta. Passem lá por http://www.aruexperienced.blogspot.com/

2 comentários:

pinky disse...

tenho q ir a esse tasco, gosto de coisas assum com esse ambiente! bela descoberta!
sim, o r u experienced, é o melhor deles todos! ;)

Anónimo disse...

pois é a "familia Bica " é isto msm, calor humano,companheirismo,alegria,sei lá tanta coisa,graça a Deus faço parte desta familia desde que nasci,com orgulho e amor desfilo pela marcha do meu bairro,e fico feliz quando leio coisas positivas do meu bairro,a BICA é Mágica disso ninguém duvide.
já agora visita o blog http://minha-bica.blogspot.com
A BICA É LINDA!
Tania Angelino Marcha da Bica