11.1.07

Cheira a Lisboa

O primeiro camião de recolha do lixo passa invariavelmente pela rua da Atalaia por volta da meia-noite, quando o Bairro Alto começa a ficar cheio de gente. À uma e pouco passa uma segunda carrinha, com idênticos objectivos. Em sentido ascendente, o primeiro motorista trava em frente ao Calcutá e, segundos depois, em frente ao Spot. O segundo estaciona em frente ao 21 e lá segue o seu caminho [desce a rua da Barroca e pára diante do clube da esquina, para recolher os sacos e caixotes]. Ou seja, na precisa hora em que a multidão se acotovela, os funcionários da Câmara Municipal de Lisboa ocupam a rua e impregnam o ar com o seu doce aroma de quatro rodas. Poderiam passar antes das onze, mas atravessar o deserto das ruas não teria se calhar tanta piada, nem incomodaria tanta gente. À meia-noite é que é. E novamente à uma. Crazyyyyyy!

Já que é da recolha de lixo que se trata, a inquietação prossegue. A maior parte dos caixotes do lixo do Bairro Alto estão, por incrível quer pareça, trancados à chave. Como se os despojos fossem uma exclusividade do dia nos principais quarteirões da vida nocturna da capital. É [mais] um traço de esquizofrenia nesta cidade. É favor deitar os copos de plástico para a rua.

Gosto de passear pelo Bairro de dia e gosto da pacatez quinhentista das suas ruas. Até gosto dos grafitti nas paredes, porra. Mas não suporto o cheio do camião, nem os caixotes de lixo trancados, e muito menos dos cartazes que pedem silêncio para os moradores na rua do Diário de Notícias. Se é a sua vocação nocturna que torna o bairro em Bairro, então assuma-se a tendência. Caixotes do lixo para todos, camiões de recolha pela manhã e faça-se barulho a horas impróprias. Tenho dito.

3 comentários:

F. disse...

Lançamos o movimento pela libertação do Bairro dos seus moradores?

Afinal é a vida que imita o Bairro ou o Bairro que imita a vida?

Marco Lourenço disse...

bairro tem algo nele que me leva para outro(s) mundo(s)
acho que há lá muito daquilo que adoro e gostaria de ser e um outro tanto, muito menor, de coisas que n me dizem nada.absolutamente nada.

é como que todas as paredes e fachadas das casas, imensamente cobertos de grafittis e flyers, se tornassem uma espécie de cenário, num teatro de fantasia, onde a única coisa que é real [e até bonita] são as pessoas.

eu gosto mto do bairro, mas os camioes e sacos de lixo no chão, põem qq cenário no chão.

pinky disse...

assino em baixo! e o mesmo vale para a recolha do lixo na bica!