29.3.07

Mário, o marionetista

Bruxa presa por fios tem duplo feitiço. Palhaço pobre é riqueza de espírito. Aladino pendurado não é génio de lâmpada, é magia de cordel. E polícia atado é como todos os outros, facilmente manipulado.

São as marionetas que Mário, o marionetista, traz de tempos a tempos para o Bairro Alto, «custam cinco euros mas para ti faço a quatro» e para ti é toda a gente, porque toda a gente sente o fascínio de coordenar os movimentos às figuras espadaúdas, esticadas verticalmente. As marionetas de Mário são tão magras quanto ele e todas sorriem. Não há dias tristes para fantoche de madeira.

Mário vive aqui há 35 anos, mas nasceu em Angola, perto de um Huambo que se chamava Nova Lisboa. Tem carapinha grisalha, barba revolucionária branca no centro e preta nos limites. «Moldei o Mário Soares para o Contra-Informação», disse Mário, o marionetista. Talvez.

Por alturas do Natal a procura aumenta e costumo vê-lo em Novembro a percorrer o Bairro e perguntar aos frequentes: «Precisas de marionetas para o Natal? Quantas? Avisa agora que eu depois não tenho.» E ninguém avisa, mas ele fá-las à mesma e vende-as sempre, todas, nunca lhe sobra um pinóquio que sonha ser menino de verdade.

Bruxas, aladinos, palhaço pobre, polícia. A vida de Mário é mágica e as suas personagens são feitiços. Ontem, tenho a certeza, vendeu todos os seus sorrisos de madeira.

5 comentários:

Unknown disse...

as marionetas de que falas, são os sonhos perdidos de tantos trintões que frequentam o Bairro Alto. Também a mim me cativaram, quando ele me apresentou uma bruxa com um sorriso de fada, que encanta todas as crianças com quem trabalho, sempre que resolve contar-lhes uma história.
Sandra

pinky disse...

estranho, nunca por lá vi esse mário... vou ficar atenta!
sempre gostei dos personagens que vagueam pelo bairro, esse não consta das minhas histórias.

Anónimo disse...

Alguém sabe do Poeta do Bairro Alto?
Deixei de o ver. Prefiro pensar que os seus poemas vagueiam pelas ruas bohémias do Quartier Latin.
Imagino-o com barba feita, cabelo aparado e de boina. Na mão segura um copo de vinho com firmeza e, as suas palavras encantam quem por ali passa.
É assim mesmo que eu prefiro pensar assim no velho poeta do Bairro.

Adorei o teu texto!!!

Besos

Djáli

Anónimo disse...

assim...assim...assim...é mesmo assim!

:)

Djáli

Anónimo disse...

Que lindo! De repente lembrei-me dos textos do Então?! E daquelas coisas que escreviamos com o coração!!!
Beijos e saudades!