13.11.06

Rio manso

Entre Março e Maio deste ano desdobrei-me em viagens de cacilheiro. Andava em reportagem na Margem Sul e, se bem que podia pedir requisições de táxi na redacção, preferia descer do Principe Real ao Cais Sodré a pé para depois flutuar pelas águas do Tejo até à outra margem.

Apanhava todos os dias o mesmo cacilheiro - o Sintrense - e sorria inevitavelmente a pensar que as tágides me andavam a abensonhar o trabalho. Não fosse eu filho do monte da lua, saloio de gema, serrano por vocação. Não embarcava sempre à mesma hora, mas a verdade é que era sempre o Sintrense que ali estava à minha espera. Como se de profecia ou destino se tratasse.

Uma vez, no regresso, o lusco-fusco manchava o céu com o sol no meio dos dois pilares da ponte. Outra vez, também no regresso, vi o Tejo mar prateado com luar espelhado nele, lua da minha serra a bordo do Sintrense, vagas calmas, embalar doce.

Sábado, dores de estômago, entoxicação alimentar apanhada na véspera, na Cantina do Baldracca com spaguetti alle vongolle. Saí de casa para apanhar o fresco e meti-me no metro para o Cais Sodré. Sentei-me no muro diante das águas, mal-disposto, tristonho. E, diante do Tejo com a lua aparecer, senti-me em casa, como se a minha mãe me fizesse festas quando fui operado à garganta, ou se passasse os dias comigo no hospital daquela vez que caí dum segundo andar e esmigalhei o braço direito.

Quando cheguei a casa, sentia-me muito melhor.

1 comentário:

pinky disse...

é, o tejo pode ser um bálsamo! tb gosto de apanhar o cacilheiro qd a viagem é só mesmo um passeio até á outra margem e por vezes parece que levanto vôo.. bela viagem essa!