O Frutalmeidas, na Avenida de Roma, tem provavelmente os melhores pastéis de massa tenra do mundo. Não é que eu seja grande apreciador de pastéis de massa tenra, mas eles lembram-me as tardes de Inverno em que ficava sentado na mesa de azulejos da cozinha a fazer os trabalhos de casa com a Jaquina nas minhas costas, a estender massa no balcão de mármore. Era ritual da chegada do frio, fazer croquetes, rissóis e pastéis de massa tenra. A Jaca, muitas vezes com a ajuda da minha avó, produzia centenas de salgadinhos, estendiam-nas numas caixas grandes de plástico, separadas em camadas por folhas de papel de alumínio, e congelavam-nos para todo o ano. Estou certo que a Jaquina, que agora está velhinha e reformada, não produz os pastéis de massa de tenra do Frutalmeidas, mas, que raios, sabem exactamente ao mesmo.
Ao sábado de manhã [pronto, às três da tarde], vou invariavelmente beber um sumo de maçã natural e comer dois pastéis ao Frutalmeidas. O problema é o atendimento. Digo boa tarde e o empregado não responde. Abana a cabeça para perguntar o que quero e traz o pedido largando-o apressadamente em cima da mesa. Pago, não diz uma palavra, nem sequer um obrigado. E dou por mim a pensar que, se a Jaquina estivesse ali, veria o facto como uma afronta.
Chateia-me o mau atendimento em Portugal porque é um país de turismo. Percebo que as pessoas estejam cansadas de apertar o cinto, da crise, de ganhar mal, mas ninguém tem de levar com a má onda dos outros quando está a adquirir um bem ou serviço. É uma questão de profissionalismo.
Atitudes que me transcedem:
1. Peço uma italiana ao balcão, trazem-me uma bica cheia e eu protesto. Muitas vezes perguntam se têm mesmo de tirar outra, se não quero beber assim.
2. Peço uma coca-cola com gelo e respondem-me que a cola está fresca. Eu insisto que quero num copo cheio de gelo e trazem-me duas pedras.
3. Peço um café e um copo de água e dizem-me para me servir eu próprio do copo de água. Convenhamos que um jarro cheio há sabe-se lá quanto tempo e uma série de copos dispostos em fila não são propriamente higiénicos. E é aquela onda do «a mim ninguém me paga para servir copos de água.»
Há uns dias, estava no Crew Hassan a jantar com uns amigos, mas cheguei tarde e eles já estavam a meio da refeição. Pedi o meu prato, paguei e sentei-me com eles. Não havia rigorosamente mais ninguém no Crew Hassan. Passado um bocado, uma rapariga saiu da cozinha, passou o balcão e veio à mesa dizer-me: «O seu prato está pronto, não fazemos serviço de mesa.» Ela veio à mesa e não foi capaz de trazer o prato, mesmo com a sala vazia, porque simplesmente «não era função» dela. Impressionante.
Voltando aos pastéis de massa tenra, a Jaquina também não tinha obrigação de fazer salgados. Empregada doméstica, era essa a sua função. Mas ela era muito mais do que isso. Tinha brio e interesse, preocupava-se de facto com as coisas. E conseguiu fazer aquilo que temos dificuldade de fazer em Portugal: marcar realmente a diferença.
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3 comentários:
adoro esses pasteis e os sumos naturais são realmente mto bons ao ponto de ter apanhado uma alergia de tanto beber sumo de morangos! e não querendo parecer mazinha mas sendo, devo dizer que é da minha opinião que o povo portuguesito é mesmo mto mal educado, do pior que há mm...no meu prédio há uma mistura racial mto grande, desde angolanos, indianos, portugueses, cabo-verdianos... e adivinha qual é a nacionalidade da familia que tem sp a musica pimba aos berros, que não é capaz de dizer boa tarde quando entra no prédio quanto mais dizer "obrigado por ter segurado a porta pois estou carregada com os sacos das compras"!!!! eu sei que é injusto generalizar mas esta verdade aplica-se a 90% dos portugueses...tenho pena dos outros 10% que tal como eu são metidos na mesma panela que os outros e de vez enquando tenho de ouvir: são angolanos, lá todos são assim!parece que são sentimentos que não podemos evitar de ter...
Ui, meu querido, eu sou filha de comerciantes, trabalhei atrás de um balcão desde sempre, e por isso mesmo há coisas que não me passam no goto. A última foi trazerem o café frio na esplanada da Mexicana, porque vinha tudo na mesma bandeja e as pessoas que tinham pedido sumos e coisas que não arrefecem estavam mais perto e dava mais jeito servir-me no fim. Acabou por lhe dar mais jeito ir tirar outro café. E também lhe deu mais jeito ser tratado como uma criança em plena esplanada cheia, porque quando eu estava a fazer uma muito diplomática reclamação ele achou que o melhor que tinha a fazer era tirar importância e virar-me as costas. Ui, subiu-me a tia que há em mim, imaginei que morava ali na Guerra Junqueiro e que estava a falar com um filho mal-criado. Ele encolheu-se todo quando ouviu o meu irritado "Volte aqui imediatamente que eu estou a falar consigo!".
Mas voltamos sempre ao mesmo, aos topos. Quem tem um frutalmeidas ou uma mexicana, devia sentir a obrigação de proporcionar um mínimo de formação de hotelaria aos seus empregados, o que nitidamente não acontece. As pessoas vêm de mundos diferentes e precisam de aprender. Digo eu.
Mas sim, há aqui questões humanas, de consideração e respeito pelo próximo, muito básicas. Que não deixa de ser uma estrada de dois sentidos — a quantidade de gente que vejo a tratar os mais variados funcionários como se fossem transparentes, apenas um par de braços que existe para esfregar o chão que nós pisamos, também dava uns quantos posts. ;)
O Frutalmeidas tem mesmo os melhores pastéis de massa tenra! E a melhor tarte de maçã também! Conheço bem o Frutalmeidas, a minha tia trabalha lá (na cozinha) e a minha mãe também já lá trabalhou... Quanto ao atendimento... sim, alguns empregados podem não ser a maior simpatia, mas também aquilo está muitas vezes (normalmente à hora do almoço) muito cheio, e eles nem têm tempo para nada...
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