22.2.07

Rebenta a bolha

Nitidamente sou da geração de 70. E ainda bem, porque eu e os outros da segunda metade da década crescemos com algum do sistema de valores dos tipos que apanharam com o 25 de Abril em cima, mas não nos lixámos tanto como eles [o nacional-porreirismo dos que eram teenagers nos 80's descambou em muita droga, pouca acção, alguma desilusão e um peculiar desconsolo social]. Fomos os últimos a ir brincar «lá para baixo», que é como quem diz na rua - as miúdas a saltar ao elástico, os rapazes a jogar ao guelas, quem tivesse o maior abafador era rei do recreio, todos a partilhar sirumba e futebol humano, escondidas, apanhada, o máta. E fomos os últimos com três disciplinas no 12º ano, a ter que levar aquelas horrorosas sapatilhas brancas para as aulas de educação física, a saber de cor as letras do Zeca Afonso.

O meu irmão mais novo, de 1982, tem uma opinião menos saudosista, zomba do estilo «no meu tempo é que era bom». Diz ele que quem nasceu nos 70's é normalmente «enrezinado», «parece que lhes devem e não lhes pagam». Mas lá admite que somos uma geração equilibrada, os tais que fazem reciclagem, votam, discutem política, cresceram com a obsessão do objectivo de vida e estão mais ou menos cientes de que é preciso tomar opções, definir um rumo. Eles não, são mais go with the flow. «Nós temos mais acesso à informação do que vocês mas somos menos informados em termos gerais, e mais em interesses particulares», sentencia o David. Concordo. E continuo a preferir a idade que tenho.

No entanto, na última semana, estas certezas ficaram subitamente abaladas pela dificuldade em transitar a velha conta de blogger para a nova versão. Acabei por demorar vários dias a conseguir alcançar o sucesso da conversão e não pude fazer laboratório ao mundo através da minha janela na América. A resolução do drama só ocorreu com a ajuda de um dos inaptos da nova geração, esses que nasceram depois de 1980, não sabem nada, têm interesses particulares e nem se dão ao trabalho de ter cartão de eleitor. Pois bem, não sabem nada, mas transitaram-me a conta em menos de um minuto, devolveram-me ar para respirar e salvaram este blog da perdição certa.

Se calhar, tenho que reequacionar os meus conceitos geracionais.


PS: A partir da próxima semana abre uma nova rúbrica no arranha-céus chamada Janela com vista. Basicamente serão posts convidados de amigos, companheiros de viagem, de profissão, da blogosfera. Ou outros. Wait and see!

3 comentários:

pinky disse...

cada geração tem a sua especificidade, as suas caracteristicas. Todas são importantes, e umas são muito claramente o resultado das anteriores. Analisando o decurso da história humana constanta-se isso mesmo.
Claro que nós gostamos mais da nossa geração, compreendemo-nos melhor por termos um passado, e uma educação comum, claro que os da geração de 80´s são completamente diferentes de nós, tb me faz confusão a aparente apatia que essa geração perante a sociedade.
mas dá-me a sensação que os da geração de 70 foram desbravando caminho para os de 80, tal como os de 60 o fizeram para os de 70, no fundo está tudo interligado e acaba por fazer sentido.
mas sim, sem dúvida, vivam os 70´s com todas as festas de garagem, todas as brincadeiras na rua, com todo o inconformismo, e energia inerente.

Anónimo disse...

Esta foi mais uma das nossas conversas pela nopite dentroCada geração, acredito que tenha o seu encanto...embora a geração depois da colheita de 70, me preocupe. Quanto ás suas capacidades de mobilidade social, entre outras coisas... Nós malta 70's, brincava-mos na rua e no jardim tardes inteiras em segurança. Jogava-se á bola, ás escondidas, á macaca, ao macaquinho do chinês, ao berlinde...etc... só na minha rua eramos cerca de 20 crianças dentro desta experiência única. Depois de nós, nunca mais voltei a ver crianças na rua. Aquela alegria especial e gritante, não mais foi sentida. Actualmente, elas já não são muitas, e a maioria está em casa tardes inteiras confinadas à T.V e a jogos de computador, na sua maioria pouco crediveis para o seu desenvolvimento.
Isto dá que pensar...Não nos podemos esquecer que a violência está ali ao virar da esquina. Como tal, entendo a preocupação dos pais ao manterem as suas crianças em casa... É por isso que cada vez conheço mais gente a não querer ter filhos, sem ser pela questão económica. Mas sim, porque não saberem que Ser é que vão criar, nestas condições cada vez mais limitadas e imprevisiveis. Entendo. E lamento profundamente saber que este tempo não volta mais para nenhuma das próximas gerações. Gostava muito que eles soubessem do que estamos a falar...o mais certo é não nos entenderem.

Porém...espero que mesmo assim, todos nós lutemos no mesmo sentido. Por um mundo melhor.

Cumprimentos Kat.

Anónimo disse...

amigo,
só te digo isto: sinto-me um cadáver de tão velha. miúdas a saltar ao elástico, rapazes no guelas, a sirumba, o futebol humano, as escondidas, a apanhada, o máta e o Zeca Afonso - são clássicos, amigo, CLÁSSICOS. Tão clássicos como o Elvis no nosso tempo. não é assustador? e vai mais longe: já torcem o nariz sempre que se propõe uma gemada com pão muito partidinho (como é que é possível!?), nunca usaram cornucópias ou laca para erguer uma pala na franja e, pior, não fazem ideia de como é que se parece um pacote de farinha amparo que, entre a nossa geração, continua a ser usado para ofender azelhas ao volante. atenção: se for mesmo preciso arremessar um "mas achaste a carta no pacote da farinha amparo?, ó pastel" certifica-te de que o condutor tem carta há mais de 13 anos. é que é difícil a um nado de 80 reconhecer pacotes de amparo, pensal ou 33. e não vão perceber o que é que se lhes está a querer dizer.
uma história, só para terminar: certa vez, um estagiário da redacção onde até há bem pouco tempo eu costumava ir todos os dias para definhar, ouviu-me falar no chucky eggs do 48K e resolveu perguntar-me se eu estava a investigar alguma operação da NASA. Fartei-me de rir e só mais à noite é que chorei. 'Tamos tão velhos, não é?