6.6.08

Eu não queria, mas vou


Não tenho bilhete para nenhum concerto e no entanto assisto a todos. Da janela do meu arranha-céus na América, a vista para o Parque da Bela Vista é directa. A audição também e por isso oiço os concertos todos, os comentários dos artistas para o público, o fogo de artifício e a p$#@& da tenda electrónica. Deixem-me dormir, caraças.
No dia em que começaram os concertos tinha um simpático papel da organização do festival a pedir desculpas antecipadas pelo incómodo que o Rock In Rio Lisboa pudesse causar e a apelar ao famoso sentido de hospitalidade do povo português. Graxa pura [que em linguagem pós-moderna se chama Relações Públicas].
Eu nem sou pessoa de me deitar cedo. Não é isso. Mas gosto de ir para casa escrever em paz, ler em paz, jantar ou cear em paz. Não dá. É impossível. As janelas tremem com o ruído, os decibéis atingem níveis de poluição sonora ilegais numa área urbana, mas tudo é permitido em nome da excepção Rock In Rio. Se eu quiser dar uma festa em casa, algo me diz que o limite das autoridade será muito menos flexível.
Ontem cheguei a casa às duas da manhã e alguém tinha pendurado cartazes a apelar à realização de um abaixo-assinado entre moradores. A ideia era Rock In Rio SIM, Tenda Electrónica NÃO. Menos de uma hora depois, esses cartazes tinham sido arrancados, o que me faz suspeitar que há uma máfia activa em pleno Parque da Bela Vista.
Eu adoro música. Eu adoro festa. Mas odeio ter de me divertir à força.